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Sinais de inadimplência no crédito às empresas

Cristiane Perini Lucchesi A seguradora de risco de crédito Coface, do grupo francês Natixis, está percebendo os primeiros sinais de aumento na inadimplência de empresas médias no Brasil já como conseqüência no aperto de crédito e liquidez no país. Resolveu ficar mais cautelosa e reduzir limites. "Tivemos surpresas nesta última semana", afirma Fernando Blanco, presidente da Coface. "Acendeu a luz amarela por aqui", diz. De acordo com Blanco, duas redes de varejo regionais com faturamento em torno de R$ 500 milhões cada mostraram problemas, além de três concessionárias de veículos. As revendas de carros estão na situação que ele definiu como de "fragilidade de liquidez". Isso significa que as empresas não estão pagando os clientes da Coface (bancos ou empresas), que no entanto não declararam o sinistro ainda. "Primeiro nossos clientes esgotam todas as tentativas de negociação e buscam rolar a dívida e só depois declaram o sinistro", conta. Entre as duas redes de varejo com pagamentos em atraso, há uma na situação de "fragilidade de liquidez" e a outro teve o sinistro declarado. Segundo Blanco, a Coface nunca faz o seguro de 100% do empréstimo. Vinha tentando manter como meta buscar a aprovação de limites para níveis em torno de 80% do crédito. "Agora vamos ficar mais conservadores, pois o risco de refinanciamento das empresas cresceu muito", afirma. A cobertura será de 50% a 60%, no máximo. Segundo ele, as concessionárias de veículos vivem o aperto de crédito de dois lados: o capital de giro ficou mais escasso e caro e eles não conseguem vender os automóveis, pois o crédito ao consumidor também ficou mais curto e caro. "Os prazos de 70 meses para compra do carro foram reduzidos para, no máximo, 24." Segundo ele, a crise de crédito externa começou por causa da inadimplência nos empréstimos de alto risco imobiliários dos EUA. "Os ativos eram de qualidade ruim e houve um problema de solvência nos bancos", lembra. Desde a concordata da Lehman Brothers, em 15 de setembro, no entanto, o aperto de crédito externo chegou ao Brasil. "Houve um aperto de liquidez em um ambiente no qual os ativos dos bancos eram de qualidade", afirma. Esse aperto de liquidez foi piorando o crédito para as empresas. "O aperto de crédito é um processo que se auto-alimenta", diz o executivo. Esses sinais de inadimplência no Brasil, no entanto, não seriam suficientes para alterar a classificação de risco de crédito do país, segundo Blanco. Na semana passada, a Coface reduziu a classificação de risco de crédito do Reino Unido, da Irlanda e da Islândia. Colocou a Itália e França em perspectiva negativa. Desde o início da crise, em meados do ano passado, já havia rebaixado também o rating dos Estados Unidos. No mundo todo, o índice de inadimplência registrado pela Coface subiu 36% durante o período de janeiro a setembro de 2008, em comparação ao mesmo período de 2007. Como a carteira é nova no Brasil, não é possível fazer a mesma comparação, segundo Fernando Blanco. Para a Coface, o alastramento da crise por meio da demanda é menor que em crises anteriores, graças à capacidade de recuperação dos países emergentes.

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